Hoje li um livro na praia enquanto o sol de outono esquentava minha pele por baixo das camadas de roupa. Assisti enquanto um senhor de bigode farto e rosto envelhecido pela água salgada empurrava seu carrinho de côco verde, as rodas estalando pela ferrugem. Vi uma nadadora percorrer quilômetros em braçadas, chegar na areia e, numa prece silenciosa, agradecer ao mar.
Ontem falamos sobre a dimensão que dou aos acontecimentos bons e aos ruins. E sobre como é difícil voltar ao mundo normal depois de algo catastrófico acontecer — estou falando de um verdadeiro cataclisma, aquilo que vira seu pequeno mundo de cabeça para baixo. Uma violência, uma perda, uma tentativa de ser fracassada.
Me peguei pensando nisso porque algo maravilhoso está acontecendo comigo (algo que ainda não posso compartilhar) e meu primeiro instinto foi de temer que essa chispa seja tirada de mim. Essa felicidade — esse fio de vida tão frágil nas minhas mãos — poderá se partir a qualquer momento.
Mas por que eu percorro esse caminho de pensamento?
Corredores escuros não me são estranhos. Há alguns anos, encarei de frente um estado depressivo severo. Descobri que consigo sobreviver apesar: apesar do cérebro trabalhando em substâncias químicas desequilibradas, apesar do brilho desajustado com o que meus olhos enxergam, apesar do medo, apesar de toda felicidade ser passageira.
E, também, apesar dos acontecimentos ruins que me atravessam.
Tenho me sentido mais confiante na minha capacidade de lidar — digo, lidar com a vida. Ser sensível demais vem com uma fragilidade (que beira à ingenuidade) diante das circunstâncias. Anos atrás, perder um voo arruinava a minha vida, pode imaginar?
E estou mais confiante no trabalho, na escrita — me acomete o pensamento que deve ser a prática. Tenho trabalhado muito no último ano, talvez mais do que em qualquer outra fase da vida. De terminar meu primeiro livro aos meus projetos de escrita de ficção, que me divertem e entretêm, tudo está fluindo.
Quero tirar um momentinho para celebrar os pequenos logros, as perfeitas circunstâncias em que tudo se alinha e o mundo parece soprar você para frente. Quero saber mais do sol, do senhor do carrinho de côco, da nadadora que abraça e agradece.
Sinto na boca a vontade crua de viver a vida.
Já tive a chance de parabenizá-la antes pela qualidade, coragem e autenticidade que marcam sua escrita. Ler Pequenas Ausências e acompanhar os poemas e textos que você compartilha nas redes sociais é uma experiência profunda, envolvente e inspiradora. Sinto-me muito feliz por poder acompanhar essa sua jornada. Mesmo que de longe, vibro a cada notícia nova sobre seu trabalho!
Parabéns por todas as conquistas e realizações que você tem alcançado, especialmente considerando os desafios e incertezas que fazem parte da vida e da carreira de escritora.
Estou muito animado para ver os próximos passos da sua trajetória, certo de que o seu futuro será brilhante, cheio de sonhos realizados e novas vitórias. Parabéns!!!!!!